26/10/2012
Christiane Torloni participa de debate sobre Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues não perdia a oportunidade de ridicularizar a figura do psicanalista: “Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso ainda é o psicanalista”, disse, certa vez. Sua obra, predominada pelo sarcasmo, possui conceitos identificados com a psicanálise e com o teatro grego.
Para tentar descobrir por que os psicanalistas eram loucos por ele, o palco do Teatro do Sesi São Paulo recebeu na noite desta quarta-feira (24/10) a atriz Christiane Torloni, estrela da segunda versão de O Beijo no Asfalto (1980), ao lado do jornalista Luiz Zanin Oricchio, do jornal O Estado de S. Paulo; o psicólogo Elie Cheniaux, coautor do livro Cinema e Loucura, que estuda as obras de Nelson; e Ruy Castro, biógrafo e curador do projeto do Sesi-SP Nelson Rodrigues 100 anos.
Christiane Torloni, uma nelsonrodrigueana assumida, disse estar feliz de participar do debate. “É muito bom ser unido pelo Nelson. Ele é, literalmente, um anjo pornográfico”.
A atriz contou que era muito importante o fato de Nelson acompanhar as filmagens. “Pecar era uma coisa muito importante, mas com a bênção do Nelson era perfeito. Você peca com a bênção dele”, afirmou.
Segundo Torloni, o contato com o dramaturgo no início de sua carreira foi fundamental. “Nelson é como Shakespeare, pois sua métrica não é para ser natural. Ele é um homem do teatro e entende que essa naturalidade transporta as pessoas”, afirmou ao revelar que sentiu raiva quando ele morreu. “Eu nunca tive tanta raiva de um morto, porque ele morreu antes do filme ser lançado e isso foi uma grande decepção. Eu me senti traída”.
Na visão da atriz, revelar Nelson para o brasileiro é uma tarefa difícil, porque ele não tem “papas na língua” e nos faz ver e ser o que realmente somos e, assim, questionar-se: “Por que nós, brasileiros, somos assim? Quem somos nós?”.
“Nelson Rodrigues traz essa brasilidade de uma maneira tenebrosa. Queira você ou não, ou você é nelsonrodrigueano, ou você não é brasileiro”, afirmou.
Ruy Castro completou: “se Nelson escrevesse em outras línguas, ele não seria brasileiro”.
“Depois que você encontra o seu Nelson Rodrigues, você se converte. Não tem volta”, alertou Torloni.
Fonte: Sesi
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