18/03/2012

É o fim Bebê ! Depois de tantas maldades em 'Fina Estampa' ,Christiane Torloni planeja sair de cena para torna sua vilã inesquecível

                                           Fonte : Revista da TV. 18 de março de 2012 - O GLOBO

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RIO - Christiane Torloni sai do carro trazendo uma escova de cabelo, um estojo de maquiagem, o celular, a inseparável garrafa d’água (misturada com plantas medicinais) e um leque que, diz, "é quase como um marca-passo" para ela. Não está de bolsa, mas tem no automóvel tudo o que precisa, até as marmitas de comida que leva para as gravações no Projac. Vestida de branco, com chapéu e óculos escuros, pede para ser fotografada dessa maneira para pontuar as diferenças entre ela e Tereza Cristina, a perua bélica de "Fina estampa". Mulher capaz de pensar em empurrar a própria filha grávida da escada nesta reta final da trama, que termina sexta-feira, a amoral vilã de Aguinaldo Silva tem tudo para entrar na galeria dos grandes malvados da TV. E a atriz já traçou uma estratégia que considera fundamental: sair de cena do vídeo por um tempo.
— Qualquer personagem, para ser imortalizado, precisa ser guardado, e não substituído por outro. Por isso, todos se lembram da Jô Penteado (de "A gata comeu"/1985) ou da Diná ("A viagem"/1994) — acredita a atriz, já sentada no café do Parque Lage, onde conversou com a Revista da TV.
No papo, conta que entre seus planos imediatos para depois do folhetim está uma viagem para Itália e Turquia. Na volta, participa de um espetáculo de dança com o grupo Studio 3, dirigido por José Possi Neto, em São Paulo.
— Preciso de um período de descanso da TV. Venho emendando trabalhos desde a minissérie "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" (2007), com direito a "Dança dos famosos" (ela foi a vencedora da quinta edição do quadro do "Domingão do Faustão", em 2008). Parece até que estou participando dos Jogos Olímpicos nestes últimos anos — diz, soltando uma sonora gargalha à la Tereza Cristina.
Por mais cansativo que seja, interpretar a socialite assassina no horário nobre também não deixa de ser um refresco para a atriz. É o que a própria garante.
— Eu esqueço que existo quando gravo. Aliás, por mais louca que ela seja, as pessoas também se esquecem da realidade e acreditam nesta personagem — opina.
Difícil é imaginar uma mulher tão desvairada quanto esta dondoca, que usa cobras e ratos para intimidar as pessoas. Apesar de dizer que na ficção tudo pode ser exacerbado, Aguinaldo Silva é o primeiro a lembrar que Tereza Cristina não é uma pessoa real. E, por isso mesmo, pode ser ainda pior que os maus do nosso dia a dia. O autor, que conta buscar suas vilãs "na mais inocente de todas as artes, o desenho animado", se inspirou no gato Tom, o inimigo do rato Jerry, para criar a perua.
— Mas ela não é só má, é complexa. Também é uma personagem trabalhada com todas as nuances possíveis numa vilã de melodrama. No finalzinho da história, vai revelar finalmente o $pode ser grata e bondosa — antecipa.
O autor só não entrega o desfecho da antagonista. Nesta reta final, Tereza Cristina tentará uma fuga de barco com seu amante, Pereirinha (José Mayer).
— Se ela será punida ou não, não saberemos. Tudo indica que sim. Mas é apenas uma dedução por conta do que acontece nessa fuga. Gosto de imaginar que, assim como Altiva Pedreira, que na pele da tia Íris (Eva Wilma) volta a Greenville (a cidade fictícia de "A indomada") no final de "Fina estampa", talvez, numa outra de minhas novelas daqui a anos, tenhamos a volta de Tereza Cristina.
O novelista trabalhou agora pela primeira vez com a atriz, mas se pergunta por que demorou tanto para escalar Christiane:
— Ela vinha de uma sequência de comédias ligeiras e agora lembrou ao público que é uma atriz séria, densa, digna de figurar entre as maiores.
Aguinaldo diz que Christiane se entregou à personagem e a enriqueceu com detalhes dos quais ele se apossou. O emblemático "Hoje é dia de rock, bebê", bordão cunhado pela atriz durante uma entrevista no Rock in Rio, em setembro, foi parar em todas as bocas. Inclusive na da megera das 21h.
— Eu chamo todo mundo de bebê, de criança. Para não invadir o meu espaço, usava baby nas falas da Tereza Cristina. Depois da entrevista, passou a vir no texto: "É hora de cantar pra subir, bebê", "Hora de rolar da escada, bebê" — conta a atriz, que começou a tratar o mordomo Crô (Marcelo Serrado) de slave (escravo, em inglês) por conta própria, antes de a expressão também ser absorvida pelo autor.
Ainda sobre a tal entrevista do festival de rock, Christiane assume que chegou a ficar tensa com a repercussão. Mas, depois de ver o vídeo, relaxou.
— Aquela sou eu! — afirma, sem esclarecer se estava ou não altinha na ocasião. — Sou eu e ponto. Claro que não vou chamar o Sarney de bebê no Congresso. Mas era Rock in Rio. Então, hoje é dia de rock, bebê — diz, repetindo o bordão.
Criticada no início da trama por estar alguns tons acima, Christiane jura não ter se abalado. E explica que os exageros da personagem — então apresentada como uma perua fútil, quase histérica — sempre fizeram sentido em sua cabeça.
— Sou obediente, cara! Se combino uma coisa com autor e diretor, não adianta o meu pai ligar e dizer que estou gritando em cena. Mais tarde, a gente vai saber por que ela berra. Às vezes, é preciso incomodar mesmo. Tem gente que é exagerada, já dizia o Cazuza — filosofa Christiane.
Em cena, ela diz topar tudo. Até mesmo aparecer amarrada depois de levar uma lição da heroína Griselda (Lilia Cabral).
— O autor só nos poupou das baratas — brinca a atriz, que usou uma dublê na sequência em que a vilã desmaiou no chão de um cemitério: — Essa criatura merecia uma estátua em praça pública! Eu não queria ficar deitada naquele lugar. Mas o resto, a Chriszinha aqui fez. Eu não me privo de nada.
Marcelo Serrado — o intérprete do mordomo e fiel servo que trata a vilã como "Rainha do Nilo", "Divina Ísis", entre outros títulos — diz que os dois estão no fio da navalha o tempo todo neste trabalho.
— São personagens no limite, mas ela tem zero pudor e embarca nas loucuras — diz Marcelo.
Para Christiane, o grande diferencial da personagem é ser uma vilã cômica. Ou, nas palavras dela, "Maquiavel com humor". Além de revelar o despudor cênico da atriz, "Fina estampa" a traz ainda em figurinos sedutores, como as famosas camisolas longas de Tereza Cristina. Aos 55 anos, ela se diz cada vez mais confortável na própria pele.
— A única coisa da qual você pode ser orgulhar é da passagem do tempo. Obrigado, Senhor! — agradece, olhando para o céu: — Se esconder isso, você tem problemas. Digo que virei loba. Isso nada mais é do que assumir o meu tempo, a minha idade e os meus limites. Eu não quero ser outra pessoa.
Adepta da ioga, a atriz afirma que todos precisam se cuidar "para não estragar o equipamento". Mas não revela a quais procedimentos já se submeteu em nome da beleza:
— Tem sempre que fazer menos do que imaginam. Se errar, será pouco. Mas hoje o meu corpo traz todas as marcas dos meus erros e acertos.
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Autor de ‘Fina estampa’ ‘entrevista’ Tereza Cristina


RIO - Aguinaldo Silva topou na hora a proposta da Revista da TV: "entrevistar" a personagem Tereza Cristina, a antagonista vivida por Christiane Torloni em "Fina estampa". O revelador diálogo entre o autor e sua criação ajuda a entender melhor a mente perturbada da vilã do horário nobre. Por que a perua da Barra da Tijuca odeia tanto Griselda (Lilia Cabral)? Por que ela maltrata o mordomo Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado)? Ela já amou René (Dalton Vigh)? Estas e outras respostas estão no papo a seguir:
AGUINALDO SILVA: Por que você odeia a Griselda?
TEREZA CRISTINA: No começo, eu a odiava por causa da insistência dela em tomar o meu marido e os meus filhos. Mas, depois, esse ódio se tornou um vício. E para ele só existe uma cura: é matar aquela jumenta do Alentejo!
E você vai tentar fazer isso?
TEREZA CRISTINA: Quantas vezes for preciso, até vê-la estrebuchando na minha frente. Além de odiar a anta portuguesa por vício, eu também descobri que o universo inteiro é pequeno demais para nós duas. Uma tem que sumir... E não serei eu, é claro, porque sou mais interessante do que ela.
Eu sei que você não gosta da palavra "louca"...
TEREZA CRISTINA: (ela corta a pergunta) Não a pronuncie na minha frente... Ou encerro a entrevista.
Mas as coisas que você faz... São por maldade ou por loucura?
TEREZA CRISTINA: Por tédio! Eu podia sair fazendo caridade, distribuindo o meu dinheiro aos pobres... Mas acho tão inútil. Eles vão gastar tudo e continuar pobres! Para mim, as únicas coisas que valem o trabalho de fazê-las são as maldades. Eu sou boa quando sou má, mas sou maravilhosa quando sou péssima. Quando pratico maldades em que animais são meus "auxiliares" então... Lembra a cobra no carro da Amália chorona? Quando me veio a ideia, eu quase tive um orgasmo!
Por falar em orgasmo, sua relação com Pereirinha não é, digamos assim, meio estranha?
TEREZA CRISTINA: Claro que é, isso faz com que seja ótima! Nós dois somos amorais e estranhos, por isso combinamos... E também, no final dessa história, vamos fugir juntos... Para Mônaco, onde eu tenho um apartamentozinho. Crô Valério disse que o homem do robalo é uma verdadeira "bandeira da pobreza" e que lá em Mônaco todo mundo vai notar isso. Mas eu direi a quem desconfiar dele que Pereirinha é excêntrico.
Por que você humilha tanto o Crodoaldo Valério?
TEREZA CRISTINA: Porque gosto dele. Existe $mais horrorosa do que a gente gostar de alguém? Só nos fragiliza e é a maior perda de tempo! Por isso, para esconder que gosto daquela biba horrorosa, eu a trato feito cachorro. Por falar em cachorro, sabe o que eu deixo para Crodoaldo Valério no meu testamento? Os cachorros e mais algumas coisitas... Mas não vou lhe dizer o quê.
Você amava mesmo Renê ou só estava bancando a esposa amantíssima?
TEREZA CRISTINA: Eu gostava do modo como ele dava respaldo às minhas travessuras. Por mais que eu aprontasse, ele estava lá, tediosamente protetor e solitário. Isso me convinha... Até que a Gorila Maguila, a anta bigoduda apareceu nas nossas vidas e aí esse joguinho meu e do Renê perdeu a graça. Mas a pergunta é se eu gostava dele ou não e, em vez de responder, eu pergunto. Pensa nele e me diz: o que você acha, bebê?
Você é meio bipolar em relação aos seus filhos. Ora ama, ora odeia...
TEREZA CRISTINA: Filhos... Melhor não tê-los! Mas o idiota do Renê quis e, na época, eu queria ser uma esposa normal... Eu os tive. Agora, tenho que carregar aqueles trambolhos pela vida afora. Como pode?
Você tem fixação em Nazaré Tedesco. Por quê?
TEREZA CRISTINA: Porque ela sabia aprontar. Não basta ser má, é preciso ser criativamente má, e nisso a Nazaré era mestra. Por isso não hesitei em recriar algumas das maldades dela, como empurrar pessoas da escada. Ela só tinha um defeito: era brega, quase tanto quanto as pessoas que perdem tempo acompanhando diariamente uma novela de TV.
Que conselhos você daria aos nossos leitores?
TEREZA CRISTINA: Não fiquem aí parados, bebês, que a vida é curta. Aprontem!

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‘Fina estampa’ se despede com embate entre heroína e vilã

 

Confira tudo aqui : O Globo

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